
Tenho trabalhado ultimamente com uma pesquisa sobre a leitura, para as séries iniciais na fase de alfabetização de crianças, e é interessante notar que os autores que tratam desta problemática da aquisição da leitura e da escrita sempre sugerem que se trabalhe com as crianças a importância do ato, a significação que o aluno faz do que lê ou escreve.
Um dos teóricos que estudo no momento é Frank Smith (1989)em seu livro "Compreendendo a leitura: uma análise psicolinguística da leitura e do aprender a ler", de onde podemos tirar a seguinte citação: "Os leitores sempre lêem algo, lêem com uma finalidade; a leitura e sua rememorização sempre envolve emoções, bem como conhecimento e experiência"
Porquê então tratar a aprendizagem da leitura musical diferentemente?
Muitas pessoas comentam que já fizeram aula de música mas não aprenderam, porque era muito difícil ler a partitura, e mais difícil ainda fazer duas coisas ao mesmo tempo: ler e tocar.
Procuro trabalhar de maneira diferenciada com meus alunos, primeiramente apresentando CD's com músicas tocadas pelo instrumento que vão aprender, mostrando vídeos de vários instrumentistas, para que o aluno perceba as diferentes linguagens da música, e trabalhando com o "tirar som do instrumento", ou seja, a parte prática e mais esperada por quem faz aula de música: tocar.
Com o desenvolvimento do aluno, conseguindo tirar som do instrumento, tocar algumas melodias conhecidas por ele, e se sentindo mais familiarizado com o instrumento, o próprio aprendiz sentirá a necessidade de registrar o que toca e saber ler os registros do que ainda não toca, para aumentar seu repertório.
Daí por diante, a aprendizagem da leitura musical fica muito fácil de ser compreendida pelo aluno, não é necessário nem utilizar-se daqueles exercícios chatos de colocar o nome da nota do pentagrama ou ler as notas de uma melodia. Sinceramente acredito que esses métodos distanciam ainda mais o aluno da música.
É preciso que todo educador musical não se esqueça que a música é uma arte, assim como a literatura. Uma criança que "aprende" a ler utilizando de exercícios de famílias silábicas, e só usa o que aprende para ler " Eva viu a uva", não vai se interessar em abrir um livro de contos de fadas, porque nunca mostraram o encantamento que a leitura pode nos proporcionar. Da mesma forma, um aprendiz de saxofone, flauta, piano ou qualquer instumento, não vai sentir o encantamento ao abrir um livro de partituras do Tom Jobim, se só foi ensinado a ele falar as notas da partitura de "Brilha brilha estrelinha".
Aprender, o que quer que seja, deve ser algo prazeroso e desejado.