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segunda-feira, 3 de maio de 2010

Invisível




Quem disse que a música só acontece
Nos teatros, cameratas e afins?
Só é feita por aqueles caras
Fantasiados de pingüins?

Quem é esse insensível
Que não vê o invisível?

Somente os violinos, trompas e trombones,
Harpas, clarinetes e clarones,
Flautas, oboés, saxofones,

Só é música o que sai da orquestra,
O resto de nada presta.
Quem disse uma barbárie dessas?

Quem é o insensível
Que não vê o invisível?



O que diria do aprendiz
Com a partitura no nariz
Desafinando o mi e o sol
Trocando sustenido por bemol
Contando linhas e espaços
Calejando nas cordas de aço

Tocando uma modinha, descompassado
Recebendo aplausos encabulado
Ou até broncas de um retardado
Que não percebe que você
Faz a música acontecer.

Quem é o insensível
Que não vê o invisível?



Quem nunca parou
Pra ver a banda passar?
Quem não suspirou
Ouvindo o Elvis cantar?
Quem não se emocionou
Vendo a noiva entrar?

Diga-me quem é o insensível
Que não vê o invisível?

Quem não batuca na mesa de um bar
Quando o pagode começa a rolar?
Quem não solta a voz pra cantar
Se o violeiro se põe a tocar?

Quem consegue não sorrir
Se o forró prosseguir?
Quem consegue ficar parado
Com um sanfoneiro animado?



Quem é esse insensível
Que não vê o invisível?

Quem não teve um romance embalado
Por um bolero apaixonado?
E não sofreu com um tango
Pelo namoro terminado?

Quem é o insensível
Que não vê o invisível?

Pra ninar um bebê
Quem nunca uma canção usou?


E para louvar o Senhor
Quem é que nunca virou cantor?


Meu Deus, quem é o insensível?



Esse poder invisível
Por anjos, a nós, concedido,
É o remédio infalível
Não só para quem possui audição
Mas para todo irmão
Surdo-mudo ou completamente são
Que só faz efeito
Pra quem tem no peito
Batendo, um coração.


Agora me diz,
Quem é o insensível
Que não vê o invisível?


De: Dóris Mendes Ramos

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