
Quem disse que a música só acontece
Nos teatros, cameratas e afins?
Só é feita por aqueles caras
Fantasiados de pingüins?
Quem é esse insensível
Que não vê o invisível?
Somente os violinos, trompas e trombones,
Harpas, clarinetes e clarones,
Flautas, oboés, saxofones,
Só é música o que sai da orquestra,
O resto de nada presta.
Quem disse uma barbárie dessas?
Quem é o insensível
Que não vê o invisível?

O que diria do aprendiz
Com a partitura no nariz
Desafinando o mi e o sol
Trocando sustenido por bemol
Contando linhas e espaços
Calejando nas cordas de aço
Tocando uma modinha, descompassado
Recebendo aplausos encabulado
Ou até broncas de um retardado
Que não percebe que você
Faz a música acontecer.
Quem é o insensível
Que não vê o invisível?

Quem nunca parou
Pra ver a banda passar?
Quem não suspirou
Ouvindo o Elvis cantar?
Quem não se emocionou
Vendo a noiva entrar?
Diga-me quem é o insensível
Que não vê o invisível?
Quem não batuca na mesa de um bar
Quando o pagode começa a rolar?
Quem não solta a voz pra cantar
Se o violeiro se põe a tocar?
Quem consegue não sorrir
Se o forró prosseguir?
Quem consegue ficar parado
Com um sanfoneiro animado?

Quem é esse insensível
Que não vê o invisível?
Quem não teve um romance embalado
Por um bolero apaixonado?
E não sofreu com um tango
Pelo namoro terminado?
Quem é o insensível
Que não vê o invisível?
Pra ninar um bebê
Quem nunca uma canção usou?

E para louvar o Senhor
Quem é que nunca virou cantor?
Meu Deus, quem é o insensível?


Esse poder invisível
Por anjos, a nós, concedido,
É o remédio infalível
Não só para quem possui audição
Mas para todo irmão
Surdo-mudo ou completamente são
Que só faz efeito
Pra quem tem no peito
Batendo, um coração.

Agora me diz,
Quem é o insensível
Que não vê o invisível?

De: Dóris Mendes Ramos
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